Ritual do luto. Um ano
- Nadir Weller
- 15 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de ago. de 2024
Onze de agosto de 2024. Marca um ano que meu marido morreu. Apesar do tempo passar, as memórias da nossa vida juntos são tão próximas quanto meu coração.
Por que não deixo isso para lá e tento esquecer? Não quero esquecer. Quero honrar nosso tempo juntos e o poder da permanência do amor.

A tristeza é a maneira como o amor se sente agora.

"Em tempos difíceis, sempre carregue algo bonito dentro de si."
-Blaise Pascal
2020 a 2024 foram anos marcados pela pandemia de COVID 19, tempos difíceis de perdas de muitas vidas. A morte do meu marido Jürgen desencadeou em mim os traumas de todos os tipos de outras perdas de amigos e parentes, perdas "maiores e menores", com as quais também tive que aprender a conviver.
Por mais que não queiramos, a perda afeta toda a nossa vida em vários pontos e de várias maneiras; nossos sentimentos são reais e precisam ser honrados.
Acredito que a cura vem quando abrimos espaços em nossas vidas para reconhecer e expressar nossa dor.
Encontrando a cura
Na minha jornada, encontrar a cura emocional veio por meio da internação em uma clínica psicossomática na qual extrai o meu melhor aprendizado, da escrita, da fotografia e de encontrar outras maneiras criativas de expressar meus sentimentos. Você pode não se ver como muito criativo, eu também não me via dessa forma. Mas isso não é sobre se tornar um artista talentoso, é sobre se tornar inteiro.
A autoexpressão criativa me ajudou a encontrar a cura. Durante minha jornada de luto, eu estava em um plano de terapia com concentração em Cura de Trauma. Esses planos ajudaram a processar minha dor e encontrar uma nova esperança.

Depois de um ano e no dia exato de aniversário de morte do Jürgen eu estou em um castelo na Itália acompanhando minha filha com a família em viagem de férias. Conversei com minha amiga Virgínia Emanuella sobre o plano que tínhamos de ir até onde deixamos as cinzas do Jürgen.Então reagendamos uma nova data ainda neste verão preferencialmente na transição para o outono.
Mesmo na Itália eu ainda tirei o dia 11 de agosto para honrar a memória do meu marido e fiz uma longa caminhada matinal nos campos ao redor do Monte Castello di Vibio. Lembrei das nossas viagens de férias para Itália e o quanto Jüergen gostava dos campos de uvas e oliveiras. Peguei um galho da mais próxima Oliveira e joguei sobre os campos fazendo-a voar pelas copas das plantações com algumas palavras balbuciadas no silêncio: “Sim, eu lembro de você e fico feliz por estares livre de todas as dores e cansaço"

Arte no Teatro della Concordia em Montecastello di Vibio na Itália -(o menor teatro do mundo) autoria de Cesare Agretti e de seu filho Luigi, de quinze anos. A pintura retrata uma árvore cortada entre as outras. A história relata que o grande amor do artista, Júlia, faleceu fazendo com que ele saísse da umbria deixando a obra inconclusa até que 30 anos depois envia seu filho de 15 anos para concluir não retornando mais a sua terra por causa da dor da perda.
Sim, eu também estou livre e alcancei a cura da alma. Lembrar e honrar não é mais uma dor, mas maturidade e compreensão da nossa finitude. Isso é amor❤️
A Felicidade
Tom Jobim
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho, pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois, de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Obrigado