Escondida e enraizada em um mundo precário
- Nadir Weller
- 17 de set. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
Tempo de escolher o meu lugar na terra. Terei forças e condições para decidir e encontrar o lugar onde possa me aquietar e enraizar longe da agitação deste mundo precário?

Eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido. *Henry David Thoreau*
É uma manhã de verão. Olhei meu plano de atividades e estava agendado uma caminhada com as colegas do "grupo amarelo" em tratamento psicossomático da estação 3 às 7:40 com o terapeuta Herr Grundböck.

Grundböck sempre escolhe um novo caminho quando nos reunimos à sua volta. Discute as sugestões democraticamente onde devemos ir. Dessa vez eu me desloquei da equipe e fui andando sozinha e silenciosa porque a trilha escolhida era onde eu tinha andado com Jüergen no verão passado. Lembrei que estava guiando Jüergen em uma das raras vezes: "Mostre-me o caminho, que descobertas tem feito?" Ele me falava ansioso por uma bela fotografia. Eu estava feliz porque eu tinha andado pelas trilhas antes e sabia exatamente o que ele gostaria de ver. Marquei bem os lugares e estava saltitando na frente dele descrevendo a beleza do lugar e dos pontos que eu guardei para ele ver.

Então, agora as lágrimas desciam pelo meu rosto. Admiro as raízes das árvores agarradas às laterais de uma ravina íngreme que leva ao rio Auerbach em Oberaudorf.
Sinto irmandade com esses seres enraizados enquanto agarro a terra e me seguro para não deslizar. Nas últimas chuvas as folhas ao chão ficaram escorregadias e há musgos nas pedras. Eu me inclino para grandes carvalhos e os seguro na descida para conforto e estabilidade. Minhas botas de caminhada não são as mais apropriadas agora.
O terapeuta segue conversando com um ou outro membro da equipe. Espera-me ao ver meu caminhar sozinha destacada do grupo. Pergunta o que está acontecendo. "Porque está chorando? Algum problema?" Apenas seguro no ombro dele e dou uma batidinha de leve para que ele entenda que é apenas o meu momento. Ele caminha algum tempo em silêncio ao meu lado.
O Rio Auerbach está cheio por causa das chuvas intensas destes dias de verão. Podemos ver o quão alto a água corre e quão alto pula os obstáculos do seu percurso. Apesar das margens íngremes, as árvores permanecem altas e retas, velhas e majestosas.


Olho para as montanhas e agradeço. Foi aqui neste lugar em meio ao rio, lagos, florestas e montanhas que Jüergen me deixou e não vai vir me buscar quando meu tratamento encerrar. Não virá me deixar flores, não o verei com seu andar tímido escondendo uma rosa com as mãos para trás.
Em homenagem a ele construí um apanhador de sonhos e o coloquei balançando ao rio. Fiquei observando o seu movimento giratório calmo em um vento leve. Então disse: "Quero viver a calma deste movimento daqui para frente"

Desci pela escada de pedras cobertas de musgo e galhos de árvores mortas até a ilha que se formou abaixo. Lembro que a caminhada original era irregular, afundava e escorregadia, nós não tivemos coragem de descer até o rio. Agora eu me esgueirava para baixo para colocar o apanhador de sonhos. Espero que ele fique um bom tempo e que eu possa vê-lo no futuro.
O verão está mais quente este ano mas as pequenas margaridas ainda estão por toda parte, colho um pouco para um vaso em minha cabeceira na clínica. Agora eu preciso oferece-las a mim mesma.

Perto do rio, o musgo verde cobre as pedras de granito. Essas pedras pesadas estão plantadas aqui como eu também gostaria de estar sendo enraizada na calma destas águas frescas.
Os Cogumelos crescem nas raízes mortas e grandes caracóis também se escondem nos seus espaços ocos.

Eu poderia me mudar para a cidade, morar em um apartamento e andar nas calçadas, mas gostaria de criar raízes nestes belos lugares da Bavaria onde Jüergen me deixou.
Como estas árvores, pedras, musgos, cogumelos, caracois eu gostaria de ficar. Gosto dos diferentes tons de verde. Verde é a cor dos ciclos da vida, a cor da esperança. O verde me lembra como sou grata por viver em um mundo que é verde mesmo durante este ano excepcionalmente seco.

Conheço as árvores e os caminhos desta floresta. Conheço os riachos e o pântano. Olho as caixas de ovos de mariposa nos troncos das árvores e sei que uma infestação já está aqui e vai piorar. Olho para a ampla pilha de madeira nos celeiros do caminho e tenho sensação de segurança. Creio que tudo está se preparando para este encontro com o futuro sem o Jüergen. Tenho um pouco de receio do inverno sozinha mas como a pilha de madeira eu poderei aprender a guardar as reservas para o frio, organizar contas, pagar impostos e manter a casa aquecida. E, quando uma tarefa estiver além de mim, saberei para quem ligar.
Onde suas raízes estão plantadas? Elas estão em um lugar onde você está há muito tempo ou você criou novas raízes mais recentemente?
Onde você gostaria de parar para descansar quando tudo ficasse mais lento na vida?
Parabéns! Tudo lindo. As imagens, fotos, textos belíssimo.🌹